ensaios.

Prefácio de Ontem Agora

Helio de Freitas Puglieli

Nome de dimensão nacional, Helena Kolody pertence mais ao Paraná do que ao Brasil. Isso não significa que sua poesia seja acanhadamente “estadual” ou regional. Nada mais universal do que o texto sempre jovem de Helena. Nada mais cosmopolita do que seu enfoque existencial. Nada mais cósmico do que seu pensamento lúcido cristalizado em diamantes poéticos de intenso fulgor.

No entanto, Helena é telúrica. Não cantou explicitamente o sol e a chuva, os frutos e as seara, a semeadura e a colheita, mas sua poesia está impregnada do espírito da terra, mesmo quando a temática urbana é manifesta. Ninguém cantou melhor o pinheiro, resgatando um tema difícil e até perigoso, desgastado que estava pelos chavões e pelos lugares-comuns. Tão digna é a poesia de Helena que não há, para ela, assuntos contaminados pelo risco do “Kitsch”: tudo se transforma em matéria poética translúcida. Nada é opaco nas perspectivas e visões que fluem de seu vasto mundo interior, convertendo-se no discurso poético firme e coerente que há muitas décadas vêm, progressivamente, enriquecendo nossa literatura.

Helena pertence ao Paraná, embora nome nacional, porque nela o Paraná encontrou sua grande voz feminina e porque nela nos encontramos, como se fosse o eco sussurrante dos próprios devaneios paranaenses.
Não é por acaso que, independentemente de gerações ou tendências, praticamente todos os que frequentam o território da poesia, em nosso estado, reservam para Helena Kolody um papel central. Ela está acima de gerações e correntes, conquistando uma unanimidade rara no mundo das letras, em termos de afetuosa admiração e respeito diante de seu trabalho sempre sincero, sempre comprometido com a máxima honestidade poética.

Helena é a voz do Paraná. Uma voz sonora, sem arrogância, sem estridências retóricas ou piegas. Uma voz que não se alterou ao longo do itinerário, modulada pela autenticidade, temperada pelo vigor de uma sensibilidade que nem o passar dos anos conseguiu reduzir.
Essa é a voz que será sempre ouvida, porque intimamente ligada à nossa maneira de ser, à própria maneira de sermos aquilo que somos, na duradoura dimensão da poesia.

Publicado originalmente como prefácio da Ontem Agora, de 1991.